História da Freguesia de Minde

Situada muito próximo da Serra d’Aire Minde participa das curiosidades geomorfológicas que caracterizam essa serra. Crê-se que a freguesia de Minde surgiu a partir de uma ermida da invocação de Nossa Senhora dos Cerejais onde havia missa, sendo os funerais e os sacramentos feitos em Santa Maria. Os moradores de Minde, no entanto, ou por falta de devoção a uma imagem que só possuíam pintada, ou por não apreciarem grandemente o título da sua padroeira, ou por qualquer outra razão que actualmente escapa ao conhecimento, pretendiam substituí-la por outra. Em 1547 Minde tinha já por orago, exactamente, Nossa Senhora da Assunção. Uma das maiores riquezas de Minde é a sua etnografia que apresenta uma variedade e complexidade tal que só pode ser sinónimo de uma intensa e longa vida comunitária, que rege todos os actos da vida dos naturais, do nascimento até à morte, no labor diário e nas festas, na religiosidade e até num certo paganismo que transparece em certos usos, certificando as suas remotas origens.

«O segredo é a alma do negócio». Assim poderia dizer qualquer minderico (natural da vila de Minde) para explicar a existência na sua localidade de um falar único e inconfundível: o minderico ou "piação dos charales do Ninhou" (falar dos naturais de Minde, designado por calão minderico). Em Minde se desenvolveu uma indústria têxtil que produziu, entre outras coisas, mantas, as quais se tornaram famosas. Para proteger da curiosidade dos estranhos os segredos do fabrico e da venda das suas mantas, os mindericos criaram um linguajar próprio, que só eles entendem. Este linguajar não é uma língua nem um dialecto. É uma gíria, constituída por um vocabulário inventado, o qual é utilizado no lugar do vocabulário português. A gramática do minderico é exactamente a mesma que a da língua portuguesa.

Nos tempos em que Minde era mais ambiente natural do que social e urbano era mais que certo que qualquer informação pedida a seu respeito teria forçosamente que dar um grande espaço a este invulgar acidente geográfico, entre nós designado por Mata e a que hoje se dá o nome científico de polje.
A Mata de Minde ocupa, por isso, lugar marcado em todos os dicionários geográficos, enciclopédias e publicações dos ramos da geografia ou do turismo, de âmbito nacional, desde O Couseiro até a À Descoberta de Portugal, das Selecções do Reader’s Digest.
Merecem especial menção as cheias de 1855 e 1936 por delas haver notícias e memória e, mais recentemente as de 1996 e 2001 ainda bem na lembrança de todos, o que não quer dizer que desde a que foi primeiramente citada não houvesse outras superiores a esta última. Quando as águas se prolongam na Mata até aos princípios do verão, para além das nuvens de mosquitos que originam, provocam também enormes pragas de salamandras que aparecem ao cair das primeiras chuvas, no outono seguin-te.
Em cheias mais demoradas é normal aparecerem algumas espécies de peixes, nomeadamente enguias.
Falando da Mata como campo de cultivo não se lhe podem negar algumas aptidões produtivas se as culturas forem devidamente estrumadas e assistidas, como dantes teriam sido quando havia animais auxiliares da agricultura e grande oferta de traba-lho braçal. Daí a sua ocupação em larga escala por várias culturas, principalmente por vinhas, pelo facto de as cepas suportarem melhor a submersão durante longos períodos. Todavia as cheias em vez de enriquecerem o solo com materiais de aluvião, empobrecem-no por terem um efeito de lavagem pelas águas limpas das nascentes e, se forem muito prolongadas, afectarem a normalidade do ciclo vegetativo por forçarem as cepas a um rebentamento extemporâneo.
Não admira pois que as vinhas da Mata fossem sendo progressivamente abandonadas até ao seu quase total desaparecimento, sobretudo na área de Minde onde a demora das águas é mais prolongada.

A freguesia de Minde é constituída por três núcleos populacionais distintos – a sede, que é actualmente a vila de Minde, o Covão do Coelho situado a 3,5 kms e o Vale Alto dois kms mais adiante, ambos situados a norte, à margem da estrada que vai para a Fátima. Os números indicados referem-se às distâncias entre os centros geográficos de cada núcleo já que, com o progressivo alargamento das respectivas áreas urbanas, especialmente da de Minde, os extremos dos três aglomerados se aproximaram bastante quase deixando de haver descontinuidade entre Minde e o Covão A população total da freguesia é de 3338 habitantes (censo de 2001) sendo cerca de 800 moradores no Covão e 120 no Vale Alto.

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